quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ENTREVISTA João José Sana fala sobre o olhar da gestão local nas políticas públicas de segurança

COBERTURA EDUCOMUNICATIVA 
- JOVENS COMUNICADORES DA AMAZÔNIA -



Jovens Comunicadores da Amazônia entrevistam João José Sana, atual membro do Comitê Estadual para a Prevenção de Erradicação da Tortura do Estado do Espírito Santo e tutor do Curso de Gestão de Políticas Públicas de Gênero e Raça da Universidade Federal do Espírito Santo. Sana foi o facilitador da sessão sobre Gestão da Política Pública de Segurança com ênfase da gestão local do Curso de Convivência de Segurança Cidadã. Em entrevista, o especialista fala sobre gestão de políticas locais, violência juvenil e experiências de comunicação popular.
Confira!

Cobertura: É pertinente a discussão sobre a gestão local da segurança?

João: Considero extremamente importante que a gente discuta segurança nos municípios e nas gestões locais.  As pessoas moram no Brasil e em um Estado.  Mas os conceitos de Nação e Estado são muito abstratos. O município não, ele é concreto. É nesse município que as coisas acontecem. Você reconhece quem é o prefeito, o vereador, os secretários. Você sofre influência direta das políticas públicas aplicadas no município. Portanto, é extremamente pertinente que esse município se envolva na licitação de políticas públicas para a segurança, não de forma isolada, mas de forma articulada com o Estado e com o Governo Federal.

Cobertura: Os municípios podem contribuir com a solução dos problemas relacionados à complexa questão da segurança?

João: A segurança é um fenômeno causal e uma complexa questão. Os municípios podem contribuir tanto na dimensão da prevenção à violência quanto na dimensão do controle. Prevenção porque você vê políticas públicas de educação, de assistência social e de saúde que são políticas veementemente do campo do cuidado. E do controle porque você tem fiscalização sanitária, posturas municipais e dos agentes de segurança. O que é preciso, então, é articular ações de prevenção e ações de controle e articular as ações  em âmbito municipal, estadual e federal.

Cobertura: Considerando os altos índices de violência contra adolescentes e jovens negros moradores de periferias das grandes capitais, quais os caminhos efetivos que a sociedade pode seguir para enfrentar esse problema? E como os/as jovens podem participar para contribuir com o enfrentamento à violência?

João: Primeiramente, nós precisamos desconstruir os preconceitos que nós temos. O preconceito contra a mulher, o negro, os indígenas, os homossexuais e transgêneros. Nós somos uma sociedade preconceituosa. Investir na desconstrução do preconceito é um desafio enorme. Quantas vezes escutamos: o jovem é atirado, o jovem é maluco. Não, o jovem é jovem! Por tanto, é importante que existam os sonhos, porque são os jovens que fazem as coisas acontecerem. São eles que movimentam as coisas. É importante ouvir o que o jovem tem a dizer, sem excluí-lo. Infelizmente, nós temos pouquíssimos canais de escuta. Nem todos os estados tem um Conselho Estadual de Juventude e, quando tem, eles são fracos. Então, o desafio é construir boas estruturas que garantam espaço de participação nos governos municipais podendo ter gerência de juventude e os governos estaduais podem ter estruturas que pensem políticas públicas direcionadas aos jovens. Acertadamente, o governo federal criou uma secretaria de juventude deliberando até uma conferência de juventude. Mas isso só aconteceu pela organização da juventude, que garantiu a mobilização e pressionou o  governo a vencer suas burocracias para atender as demandas dessas juventudes. 

Cobertura: O que você percebe sobre os vários projetos existentes na área da prevenção e segurança pública no Brasil? Há uma mudança? Há uma transformação local?

João: Eu não conheço muitos programas. Conheço algumas pequenas experiências de diálogo entre jovens e agentes de segurança. Tive uma boa impressão do “Fica Vivo” de Belo Horizonte/MG e tem outra no Rio de Janeiro que é o “Papo de responsa” envolvendo policias civis e estudantes de escolas públicas. Essa relação de jovem e policia é sempre muito limitada. Quando ambas as partes aceitam sentar para conversar, as possibilidades de mudanças aparecem. Quem é que não tem uma limitação na vida? Agora, o que importa é aonde queremos chegar! Eu quero ser menos machista, por exemplo. O jovem vive um ensaio de acertos e erros. Essa é a essência da vida. O erro faz parte do processo de conquista. Por isso, criar a  possibilidade de diálogo é fundamental.

Cobertura: O que você pensa sobre a necessidade de uma reforma política?

João: Eu defendo a reforma política! E convido a todos a participarem do plebiscito que as entidades irão realizar no próximo dia 7 de Setembro incluindo Belém e o restante do Brasil. É um plebiscito popular mostrando a insatisfação com o destino da política no Brasil da forma do financiamento público de campanhas, do comportamento dos políticos. É muito importante que nós participemos para pensar uma política em um eixo de interesse de bem comum. Não é uma política para pensar interesses individuais, é uma política para cuidar das pessoas. Hoje em dia temos as políticas afirmativas, temos cotas nas universidades, cotas raciais. Temos que pensar políticas afirmativas que garantam acesso à juventude na universidade, ao mercado de trabalho, ao lazer, cultura... Pensar a reforma política significa pensar outra sociedade para o País.


Cobertura: Qual é a importância que você vê na formação alternativa de adolescentes e jovens na área da comunicação?

João: Eu tenho pouca experiência nessa área. Mas, cito um exemplo do Programa Conjunto, desenvolvido por seis agências do sistema ONU, tendo o PNUD como agência-líder. Estávamos com muitas dificuldades em divulgar as atividades. Junto com a equipe do PNUD, decidimos criar uma atividade de comunicação com jovens. Assim, foi criada a “Comissão Puxa Aí”. A partir do uso da linguagem do blog, das mídias alternativas e das redes sociais, os jovens puderam se comunicar e criar uma rede de comunicação onde os jovens podiam falar sobre o território de São Pedro, onde moravam. Assim, um local que era visto como espaço de  miséria passou a ser visto como lugar de  riqueza, de projetos, dos jovens, das ações coletivas. A experiência de vocês aqui no Pará, por exemplo, os Jovens Comunicadores da Amazônia, é muito importante. A partir do lugar de vocês, podem se comunicar com o mundo, e comunicar para o mundo as suas especificidades.

Roteiro: Jorge Anderson e Sidney Silva

Fotos: Jorge Anderson




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